Um compilado dos marcos das criptomoedas
Confira história da jornada caótica e revolucionária das criptomoedas: do misterioso whitepaper às salas de trading de Wall Street
A primeira década (2000 - 2010)
Sendo o esplêndido epítome da inovação, as criptomoedas se tornaram a classe de ativos de mais rápido crescimento e melhor desempenho da década. Vamos conferir um pouco da história do mercado cripto, sua expansão e, olhando o histórico, avaliar o quão longe já chegamos.
O nascimento do Bitcoin (anos 2000)
Embora alguns pensem que o pseudônimo Satoshi Nakamoto lançou as bases para o desenvolvimento das criptomoedas, ele foi inspirado pelo conceito de
c
riptografia de chave pública, apresentado ao público pela primeira vez por dois estudiosos de Stanford em 1976 e pelo ecash, projeto do renomado criptógrafo americano David Chaum, lançado na década de 1980 que foi a primeira proposta a explorar o conceito de dinheiro eletrônico protegido por criptografia. Na década de 1990, ocorreram várias tentativas de construir um sistema de dinheiro digital anônimo e eficiente; todos os quais, sem dúvida, ajudaram a moldar o futuro das criptomoedas.
No entanto, antes do Bitcoin, havia outra revolução ocorrendo no sistema financeiro global, a "bolha ponto com". A internet com a qual estamos tão familiarizados também já foi uma tecnologia que em seu estágio inicial foi cercada de dúvidas, críticas, muito hype e especulações excessivas que se acumularam à bolha do mercado imobiliário nos EUA e outras instabilidades financeiras em todo o mundo, desencadeando uma grande crise financeira global em 2008, conhecida com A Grande Crise Financeira. O Bitcoin surgiu no mesmo ano, buscando ser uma alternativa ao sistema financeiro controlado pelo Estado apoiado na busca pela liberdade em todas suas formas imagináveis.
A rede do Bitcoin (2008 - 2009)
Nakamoto adquiriu o domínio Bitcoin.org e publicou o whitepaper do Bitcoin em 2008. Este artigo descreve a aplicação do consenso baseado em Proof of Work (PoW) para a blockchain do Bitcoin, um sistema de dinheiro eletrônico P2P com uma oferta limitada de 21 milhões de tokens. O bloco Gênesis (Genesis Block) foi minerado em 2009, liberando os primeiros 50 Bitcoins em circulação. Uma mensagem foi inserida no bloco Gênesis, a manchete do jornal britânico The Times, de 3 de janeiro de 2009,
The Times 03/Jan/2009 Chancellor on brink of second bailout for banks
(Chanceler à beira de um segundo resgate aos bancos). A mensagem se refere à crise financeira de 2008 e como os governos resgataram os bancos. Nakamoto também foi o primeiro a realizar uma transação com Bitcoin, em 12 de janeiro de 2009.
Whitepaper do Bitcoin. Fonte: bitcoin.org
Naquele primeiro ano, a dificuldade de mineração da blockchain do Bitcoin era muito baixa, sendo possível para qualquer usuário minerar BTC em seu computador pessoal. No entanto, como o Bitcoin era uma tecnologia nova, havia pouco interesse na atividade de mineração, pois ela consumia muita energia. Deste modo, durante muito tempo acredita-se que Satoshi Nakamoto foi o único minerador constante na rede, garantindo seu funcionamento e lançando as bases para a blockchain que conhecemos hoje. A mineração de Bitcoin requer máquinas de hardware especializadas com GPUs excepcionalmente potentes; é essa característica inerente ao Proof of Work (PoW) que mantém a rede segura e justa, porém também torna o Bitcoin alvo de críticas ambientais.
Bitcoin Pizza Day (2010)
Um evento importante para o Bitcoin – e talvez também para todo o mercado de criptomoedas – ocorreu em 22 de maio de 2010, quando um homem na Flórida pagou 10.000 BTC por duas pizzas da Papa John's. Esta foi a primeira transação comercial com Bitcoin, apesar do fato de as duas primeiras corretoras, BitcoinMarket.com e Mt.Gox, já terem sido criadas, permitindo o primeiro trade público de Bitcoin a US$ 0,03/BTC no início do ano.
Misteriosamente, Satoshi Nakamoto desapareceu por volta de dezembro de 2010. Ao longo dos anos, vários afirmaram ser Nakamoto, mas sua verdadeira identidade nunca foi revelada.
O desenvolvimento do mercado (2011 - 2014)
Pense neste período como o trampolim do setor de criptomoedas. Tempo no qual novos conceitos foram gradualmente desenvolvidos e refinados.
As primeiras altcoins (2011)
Como o Bitcoin começou a ganhar mais atenção, outros desenvolvedores criaram suas próprias criptomoedas que ficaram conhecidas como "altcoins", por serem uma alternativa ao Bitcoin
.
As duas primeiras altcoins oficialmente reconhecidas foram Namecoin (NMC) de Vincent Durham e Litecoin (LTC) de Charlie Lee, ambas bifurcadas do código-fonte do Bitcoin e ainda ativas em 2023. Atualmente, a Litecoin é a 25ª maior criptomoeda por capitalização de mercado.
As carteiras cripto mais antigas são as carteiras de software BitPay e Electrum. A Electrum continua sendo uma carteira apenas para o Bitcoin, enquanto a BitPay expandiu seus serviços ao longo dos anos para oferecer apoio a outras criptomoedas.
2011 também marcou a primeira vez que o preço do Bitcoin atingiu paridade com o dólar americano (USD), o euro (EUR) e a libra esterlina britânica (GBP)
,
um após o outro. Essa pode ser a razão por trás da decisão do WikiLeaks, no mesmo ano, de aceitar doações em Bitcoin.
O primeiro halving do BTC (2012)
Além de ter uma oferta finita, o Bitcoin consolida a teoria da escassez com um recurso pré-programado chamado halving, que está programado para ocorrer aproximadamente a cada quatro anos.
A emissão por bloco foi reduzida de 50 BTC por bloco para 25 BTC por bloco, contribuindo para o aumento de 100 vezes no preço do BTC, que foi de US$ 12, em novembro de 2012, para US$ 1.217 um ano depois. O Bitcoin lentamente ganhou força, levando ao estabelecimento da Bitcoin Foundation em 2012. Neste mesmo período, o número recorde de 1.000 estabelecimentos passou a aceitar pagamentos com BTC via BitPay.
A Coinbase conseguiu levantar US$ 600.000 para sua formação. Fundada por Mihai Alisie e Vitalik Buterin, a Bitcoin Magazine publicou sua primeira edição no mesmo ano.
No que diz respeito à adoção soberana, a Estônia foi o primeiro país a utilizar a tecnologia blockchain para o seu projeto de IDs digitais.
A primeira ICO, oferta inicial de cripto (2013)
O ano de 2013 foi marcante, pois o Bitcoin ultrapassou a marca de US$ 1.000 e o Reddit aceitou BTC para a adesão como membro ouro. O mercado da darknet Silk Road foi encerrado, com 26.000 BTC confiscados pelo FBI. Em outubro, os primeiros caixas eletrônicos de Bitcoin foram instalados em Vancouver, no Canadá, convertendo Bitcoin em moeda fiduciária e vice-versa.
O mais significativo foi o novo tipo de financiamento coletivo conhecido como Oferta Inicial de Moedas (ICO), impulsionado pelo sucesso da arrecadação de fundos da Mastercoin (OMNI). O projeto recebeu 4.740 BTC (cerca de US$ 500.000) para desenvolver sua plataforma. Os investidores eram principalmente de membros do fórum bitcointalk.org. Talvez os fundadores da Mastercoin não sabiam que sua ideia se tornaria uma tendência e seria usada por vários projetos de blockchain nos anos seguintes e, até certo ponto, abriu o caminho para o surgimento do Ethereum dois anos depois.
O primeiro NFT e as primeiras stablecoins (2014)
O início de 2014 foi bastante sombrio, pois a Mt.Gox, a maior corretora de Bitcoin na época, dominando 70% do mercado mundial entre as corretoras de criptomoedas, alegou ter sido hackeada e abriu pedido de falência. 850.000 Bitcoins (US$ 460 milhões na época) foram roubados da corretora no incidente, gerando o primeiro grande debate na comunidade sobre a auto-custódia. Isso causou uma queda de 50% no preço do Bitcoin; as pessoas começaram a mudar seu foco para outras aplicações de blockchain, como NFTs, stablecoins, moedas de privacidade e carteiras de hardware:
● Janeiro de 2014: DASH (originalmente XCoin), a primeira criptomoeda focada em privacidade, ou seja, uma moeda projetada para obscurecer o fluxo de transações, foi criada como um fork do Bitcoin;
● Maio de 2014: Quantum,
o
primeiro NFT de todos os tempos, foi criado pelo artista digital Kevin McCoy na blockchain da Namecoin;
● Julho de 2014: bitUSD, um token emitido na blockchain BitShares, cria o termo stablecoin ao vincular seu valor ao valor de mercado de moedas locais, como o dólar americano. Outro desenvolvimento anunciado no mesmo mês foi a primeira carteira de hardware para criptomoedas, a Trezor, e, pouco tempo depois, surgiu a segunda, lançada pela Ledger. Ethereum encerrou o mês com 31.591 Bitcoin arrecadados após um ICO de 42 dias.
● Setembro de 2014: a NuBits foi a segunda stablecoin a ser criada. Neste mês também ocorreu a aprovação da primeira transação de Bitcoin no mercado de balcão (OTC) pelos EUA. Comissão de Trading de Futuros de Commodities (CFTC);
● Novembro de 2014: A Tether criou a primeira stablecoin 100% lastreada em ativos reais, USDT. Além disso, no ano, muitas empresas listadas na bolsa americana não se deixaram abater pela turbulência do mercado cripto e anunciaram integração do Bitcoin como
opção de pagamento como Stripe, Paypal, Dell, Microsoft, etc.
A ascensão das criptomoedas (2015 - 2018)
Por meio dos ICOs, EIOs, entre outros, numerosas equipes iniciaram o desenvolvimento de projetos com blockchains e tokens com o objetivo de se tornarem sucessores do Ethereum.
A origem do Ethereum (2015)
A primeira mainnet do Ethereum,
Frontier, foi lançada em 2015. Isso ocorreu aproximadamente dois anos depois que Vitalik Buterin e sua equipe propuseram o whitepaper do projeto. Posteriormente, eles apresentaram a proposta para o padrão de token ERC20, absolutamente fundamental para o nascimento dos contratos inteligentes e das mais diversas aplicações em blockchain baseadas no Ethereum. O preço do Ethereum ficou abaixo de US$ 1, mas todos os investidores concordaram com o potencial ilimitado do projeto.
Fonte: Coin Gabbar no X
No geral, este foi um ano positivo para as criptomoedas. A Coinbase se tornou uma das primeiras corretoras de criptomoedas regulamentada nos EUA e a Gemini, outra corretora cripto americana foi lançada. O Bitcoin foi destaque na capa do The Economist, com o título The Trust Machine e continuou a ser o foco principal da Stripe quando a startup de pagamento iniciou a integração de pagamentos com Bitcoin para os comerciantes
.
Fonte: The Economist
Além disso, o interesse das instituições financeiras na tecnologia blockchain cresceu substancialmente: J.P.Morgan, Goldman Sachs e Bank of America fizeram um pacto para criar a estrutura de blockchain em todo o setor bancário, enquanto a NASDAQ realizou o primeiro teste de blockchain.
O advento da DAO (2016)
A Homestead foi lançada como a segunda mainnet
do Ethereum, substituindo a Frontier. Uma nova forma de organização sem necessidade de confiança foi estabelecida na blockchain Ethereum graças à invenção dos contratos inteligentes. O nome do projeto, Decentralised Autonomous Organisation (
DAO), passou a ser usado para descrever todas as entidades lideradas pela comunidade e desenvolvidas em blockchain. O hype desse projeto revolucionário reside em seu design exclusivo de distribuição de autoridade igualitária e no fato de ter sido o primeiro projeto de alto perfil na rede Ethereum, tendo arrecadado US$ 150 milhões em ETH na época. No entanto, antes de realmente decolar, um hacker conseguiu explorar vulnerabilidades em seu código, roubando US$ 3,6 milhões (outras fontes apontam US$ 14 milhões) do fundo do The DAO.
A comunidade Ethereum como um todo sofreu um grande golpe porque 14% do Ethereum circulante estava armazenado nos contratos inteligentes do DAO quando o ataque ocorreu. Várias questões sobre a segurança e até mesmo a viabilidade da blockchain do Ethereum, que tinha apenas um ano, surgiram. Diante de diversos desdobramentos do caso, mineradores, corretoras e operadores de nós implementaram, no bloco 192.000 um hard fork no Ethereum que deu origem ao Ethereum Classic (ETC).
O Bitcoin passou pelo seu segundo halving, reduzindo a quantidade de recompensas pagas aos mineradores: de 25 BTC para 12,5 BTC. O halving não foi a única razão por trás do preço recorde do Bitcoin registrado em 2017, mas definitivamente foi um dos principais impulsionadores. A Chicago Mercantile Exchange (CME), o principal mercado de derivativos do mundo, lançou seu índice de preço para o Bitcoin,
o
BTC Price Index, sinalizando uma intensa modificação de consciência do mercado institucional com relação ao BTC.
O ano das ICOs (2017)
Muitos chamariam 2017 como o ano de maior destaque na história das criptomoedas. Um total de 435 ICOs ocorreu, arrecadando impressionantes US$ 5,6 bilhões. A ICO mais famosa foi a da Filecoin, que também foi a primeira lançada atendendo as regras do
Acordo Simples para Tokens Futuros (SAFT) da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC).
A Binance
foi fundada por Changpeng Zhao em meados de 2017 e arrecadou US$ 15 milhões em uma ICO no mesmo ano. No entanto, o primeiro golpe ao setor de ICOs, veio da China que anunciou a proibição das ICOs em setembro.
O setor de DeFi (Finanças Descentralizadas) começou a emergir com o lançamento da stablecoin DAI, garantida em outras criptomoedas (incluindo stablecoins). O valor total bloqueado (TVL) do setor de DeFi atingiu US$ 1 milhão pela primeira vez. O primeiro jogo baseado em NFTs aclamado pela comunidade, CryptoKitties, se tornou viral, levando a capacidade de transação do Ethereum ao seu limite.
No mesmo ano, o Japão reconheceu oficialmente o Bitcoin como um método legal de pagamento, proporcionando um clima regulatório mais progressivo para o mercado. O primeiro banco suíço a vender Bitcoin
diretamente a seus clientes foi o banco privado Falcon.
A CME e a CBOE
(Chicago Board Options Exchange)
anunciaram seus produtos de
Futuros de Bitcoin,
marcando a entrada de grandes investidores do mercado tradicional no mercado de criptomoedas.
A altseason e o preço do Bitcoin após a alta de US$ 19 mil (2018)
Alguns dias antes do início de 2018, em dezembro de 2017, o BTC havia atingido seu maior valor histórico na época, entre US$ 19.700 e US$ 19.900 (dependendo da corretora). E, no começo de 2018, ocorreu a primeira altseason (alta das altcoins) com diversas criptomoedas se beneficiando da conquista do BTC e atingido seus maiores valores históricos naquele momento. O valor de mercado total de todas as criptomoedas atingiu um novo recorde, chegando a
US$ 820 bilhões
, com
investimentos de Venture Capital (VC)
no mercado atingindo
US$ 1 bilhão.
A Bitget foi fundada em 2018, preparando-se para a adoção do social trading em criptomoedas.
A Fidelity lançou sua plataforma institucional de criptomoedas e as autoridades suíças adicionaram BTC às suas opções de pagamento de impostos. Outros órgãos reguladores começaram a apoiar o uso da blockchain: a União Europeia destinou US$ 300 milhões para o desenvolvimento de projetos de blockchain e o governo sul-coreano
,
US$ 9 milhões.
Parte integrante da economia global (2019 até hoje)
Após inúmeras críticas, o mercado de criptomoedas provou que veio para ficar. Finalmente reconhecidas como uma nova classe de ativos em todo o mundo, as criptomoedas estão se tornando parte fundamental do sistema financeiro global. Obviamente, ainda há muito trabalho a ser feito, mas toda a jornada tem sido impactante e completamente surpreendente!
Escalabilidade (2019)
No ano, o total histórico de transações de Bitcoin chegou a 400 milhões
e o número de transações diárias no Ethereum ultrapassou 1 milhão. O Facebook, uma das maiores empresas do mundo em avaliação de mercado, anunciou seus planos de lançar uma moeda digital própria, enquanto o gigante J.P.Morgan foi o primeiro banco a lançar um token nos EUA, a JPM Coin.
Um tema preocupante do ano foi a segurança. Sete corretoras de criptomoedas foram hackeadas, incluindo Binance e BitHumb. O valor dos fundos roubados somou quase US$ 160 milhões, ampliando os problemas de confiança levantados pelo esquema ponzi OneCoin e pelo maior golpe da história das criptomoedas, o PlusToken.
A plataforma Bakkt da Intercontinental Exchange lança futuros de Bitcoin com liquidação física em 23 de setembro, oferecendo às instituições uma nova forma de operar BTC. A aceitação inicial foi lenta, mas lançou as bases para os derivativos de criptomoedas regulamentados. Também relacionado ao tema da regulamentação está o apoio da China ao desenvolvimento da blockchain e do yuan digital, mesmo com a proibição do trading de criptomoedas.
Verão DeFi e Quinta-feira Negra (2020)
O yield farming da Compound deu início a um boom de DeFi em meados de 2020, com protocolos como Yearn, Uniswap e SushiSwap impulsionando o valor total bloqueado de menos de US$ 1 bilhão para mais de US$ 10 bilhões até o final do ano. Os altos rendimentos e os novos tokens de governança provocaram um frenesi, embora com riscos associados aos contratos inteligentes. A Ethereum Beacon Chain (Fase 0 da Ethereum 2.0, também conhecida como Ethereum PoS) lançado em 1º de dezembro, introduzindo a prova de participação (proof-of-stake) na Ethereum. Mais de 524.000 ETH foram apostados para ativar a atualização, dando início à transição plurianual da Ethereum do PoW, um pouco mais tarde do que as projeções iniciais.
Enquanto isso, a queda da Quinta-feira Negra, em março de 2020, ressaltou a resiliência das criptomoedas. Em meio ao pânico causado pela COVID-19, o Bitcoin despencou 50% em 12 de março, com o ETH sofrendo queda semelhante e liquidando bilhões em posições. Essa extrema volatilidade (apelidada de Quinta-feira Negra) chocou os mercados, mas foi seguida por uma rápida recuperação que nunca mais voltou ao nível de US$ 5.330. As instituições começaram a aderir ao Bitcoin devido à narrativa do “ouro digital”, com MicroStrategy, tornando-se a primeira empresa a deter um tesouro de 21.454 BTC naquela época.
A mania dos NFT (2021)
Em fevereiro de 2021, a Tesla seguiu o exemplo, divulgando uma compra de US$ 1,5 bilhão em Bitcoin e anunciando planos para aceitar pagamentos em BTC, validando a criptomoeda como um ativo do tesouro corporativo. Em seguida, a Coinbase (COIN) abriu o capital por meio de uma listagem direta na NASDAQ, com uma avaliação de US$ 86 bilhões, tornando-se a primeira grande corretora de criptomoedas a realizar uma oferta pública inicial (IPO). Esses foram definitivamente os principais fatores por trás da nova máxima histórica do Bitcoin, que atingiu US$ 64.863 em abril.
O tema principal do ano foi NFTs, com uma obra de arte NFT do artista digital Beeple vendida por US$ 69,3 milhões na Christie's. Isso marcou o início da explosão dos NFTs no mainstream, ao lado de grandes nomes como CryptoPunks e Bored Apes. Em uma nota paralela, o mundo testemunhou a maior aposta de todos os tempos quando El Salvador aprovou uma lei para adotar o Bitcoin como moeda corrente — a primeira adoção do Bitcoin em nível nacional.
Melhores vendas históricas do Bored Ape Yacht Club na OpenSea. Fonte: OpenSea
Em novembro de 2021, o Bitcoin atingiu mais uma vez o pico de US$ 68.790 e o Ethereum, US$ 4.892. Ambos contribuíram para o novo recorde histórico da capitalização total do mercado de criptomoedas, que ultrapassou a marca de US$ 3 trilhões pela primeira vez na história e marcou o pico do ciclo de alta de 2020-21.
A queda das criptomoedas (2022)
Em março de 2022, um grupo de hackers chamado Lazarus Group explorou a Ronin Network (sidechain da Axie Infinity) e roubou aproximadamente US$ 625 milhões em ETH/USDC. Esse roubo — um dos maiores da história das criptomoedas — abalou o setor de GameFi e levou a um escrutínio mais profundo da segurança das pontes.
Então, em maio, a Terra (LUNA) entrou em colapso, passando de um valor de mercado de US$ 16 bilhões, quando sua stablecoin algorítmica TerraUSD se desvalorizou e caiu para centavos, eliminando o valor do token LUNA (agora LUNC). Este colapso vaporizou aproximadamente US$ 40 a 50 bilhões em valor de mercado e desencadeou uma crise de crédito mais ampla no mercado de criptomoedas.
Ambos os eventos abalaram profundamente o CeFi, causando um contágio no setor em junho, julho e agosto de 2022. Grandes credores e fundos de criptomoedas entraram com pedido de falência, desde a Celsius e a Three Arrows Capital até a Voyager.
O maior impacto foi o incidente da FTX. O colapso da corretora foi desencadeado por uma crise de liquidez após relatos revelarem suas estreitas ligações com a Alameda Research, que havia sido seriamente afetada pelo massacre no primeiro semestre de 2022. Quando os clientes correram para sacar seus fundos, a FTX não conseguiu atender às demandas porque havia secretamente emprestado bilhões em depósitos de usuários à Alameda para apostas especulativas. A corretora entrou em colapso rapidamente, levando à falência, ao escrutínio regulatório e à prisão do CEO Sam Bankman-Fried por fraude.
Em meio a essa turbulência, muitos não perceberam a ocorrência do Ethereum Merge, no qual a rede finalmente mudou para o consenso Proof-of-Stake. O consumo de energia da Ethereum foi reduzido em 99,9% e, consequentemente, o roteiro da Ethereum passou a se concentrar na escalabilidade.
O consenso da Ethereum mudou para PoS desde 2022. Fonte: Consumo de energia do Ethereum
Mais clareza regulatória (2023)
Março de 2023 trouxe turbulência bancária e uma desvalorização: o Silvergate Bank e o Signature Bank (bancos americanos favoráveis às criptomoedas) entraram em colapso em meio a uma onda de falências bancárias. A stablecoin USDC da Circle desvalorizou brevemente para US$ 0,88 quando US$ 3,3 bilhões de suas reservas ficaram retidos no Silicon Valley Bank, embora tenha se recuperado após os reguladores dos EUA apoiarem o SVB.
O Parlamento Europeu aprovou a MiCA (regulamentação dos mercados de criptoativos) em 20 de abril, estabelecendo um quadro regulamentar histórico em todos os Estados-Membros da UE. A MiCA estabeleceu normas de licenciamento, reserva e divulgação — o primeiro regime abrangente deste tipo a nível mundial. Suas regras para stablecoins entraram em vigor em junho de 2024, com disposições mais amplas a seguir em dezembro de 2024.
Nos EUA, tudo se resumia a disputas legais. A SEC acusou a Binance (5 de junho) e a Coinbase (6 de junho) de operar bolsas não registradas e oferecer títulos não registrados, mas sofreu derrotas contra a Grayscale e a Ripple. Em 29 de agosto, o D.C. O Tribunal de Circuito anulou a rejeição da SEC à solicitação da Grayscale para a criação de um ETF spot de Bitcoin, considerando a recusa “arbitrária e caprichosa”. Essa vitória jurídica aumentou a confiança de que um ETF spot de Bitcoin nos EUA seria finalmente aprovado — uma reviravolta após anos de recusas da SEC. De fato, a decisão preparou o terreno para aprovações iminentes em 2024. Um mês antes, um juiz federal decidiu que as vendas de XRP em bolsas públicas não eram títulos, o que foi uma vitória parcial para a Ripple.
ETFs spot de Bitcoin no Wall Street + Halving do Bitcoin = US$ 100 mil (2024)
Em uma mudança histórica, a SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos) autorizou, em 10 de janeiro, a listagem de 13 ETFS spot de Bitcoin (após uma derrota judicial e anos de lobby do setor). Empresas como BlackRock e Fidelity lançaram , finalmente oferecendo aos investidores americanos fundos diretos em Bitcoin logo nos primeiros dias do ano. Nos primeiros dias do segundo semestre, os primeiros ETFs spot de Ether dos EUA fizeram sua estreia de forma bastante inesperada, sinalizando uma recepção mais moderada dos investidores do que a do Bitcoin.
Enquanto março de 2024 foi o momento de destaque do Ethereum com sua atualização Dencun para reduzir as taxas de camada 2, toda a atenção estava voltada para abril, com o 4º halving do Bitcoin no bloco de número 840.000. A recompensa por bloco do Bitcoin caiu de 6,25 para 3,125 BTC, demonstrando mais uma vez a escassez programada do Bitcoin.
O regulamento MiCA da UE entrou em vigor para os emissores de stablecoins em 30 de junho de 2024, com aplicação total para exchanges e outros serviços de criptomoedas até janeiro de 2025. No final de 2024, os regulamentos da MiCA passaram a ser totalmente aplicáveis em toda a UE, abrangendo todos os prestadores de serviços de criptoativos. Os observadores do setor notaram um aumento nos custos de conformidade, mas também uma maior confiança institucional nos mercados da UE.
Em novembro de 2024, Trump venceu as eleições presidenciais nos Estados Unidos. A eleição trouxe a promessa de “tornar as criptomoedas grandes novamente” para a Casa Branca, dando aos primeiros usuários de criptomoedas grandes esperanças em relação a altas de preços no setor. O Bitcoin atingiu sua máxima histórica de 6 dígitos pela primeira vez em dezembro.
BTC chega a US$124 mil - 2025 (até agosto)
Diante da fraca aceitação de sua stablecoin PayPal USD (PYUSD), o PayPal anunciou um incentivo de rendimento de 3,7% para os detentores em abril de 2025, quando a circulação de PYUSD era de cerca de US$ 868 milhões. Então, após as eleições nos EUA e mudanças nas agências, a SEC não só retirou as ações judiciais contra as corretoras Binance, Coinbase e Kraken, mas também o recurso contra a Ripple. Essa reviravolta sugeriu uma abordagem mais favorável ao mercado, validando especulações de que uma mudança política poderia suavizar a regulamentação das criptomoedas.
Em julho, o Congresso dos EUA aprovou a Lei GENIUS, a primeira estrutura federal dos EUA para o pagamento de stablecoins. Grandes bancos e grandes vendedores/empresas de tecnologia sinalizaram planos para emitir ou fazer parcerias para stablecoins em dólares americanos. Na mesma época, o Bitcoin repentinamente bateu US$ 123.092 em 14 de julho, antes de atingir uma nova máxima histórica de US$ 124.000, em 14 de agosto.
O Bitcoin ultrapassou a Alphabet (Google) e tornou-se o quinto maior ativo em capitalização de mercado (em 14 de agosto de 2025). Source: Capitalização de mercado das empresas
Conclusão
Desde o humilde início do Bitcoin durante a crise financeira de 2008 até atingir US$ 124.496 em 2025, o ecossistema das criptomoedas evoluiu de um ativo digital experimental para uma classe de ativos legítima que impõe respeito a instituições, governos e investidores de varejo. Essa jornada foi marcada por altos espetaculares e quedas devastadoras, incertezas regulatórias e aprovações históricas, bem como avanços tecnológicos e falhas de segurança.
O que mais se destaca é a resiliência das criptomoedas. Cada crise, desde o Mt. Gox até a FTX, inicialmente parecia ameaçar todo o ecossistema, mas, apesar disso, o mercado emergiu consistentemente, se tornando cada vez mais forte e maduro. A infraestrutura, portanto, tornou-se mais robusta, levando a regulamentações mais claras, o que incentivou uma participação institucional mais ampla. Os ETFs de Bitcoin em Wall Street, a adoção como moeda legal em El Salvador e estruturas regulatórias abrangentes, como o MiCA, demonstram que as criptomoedas transcenderam sua reputação inicial como instrumentos especulativos para entusiastas da tecnologia.
Olhando para o futuro, foram lançadas as bases para uma integração ainda maior no sistema financeiro global. Com grandes corporações mantendo Bitcoin em seus balanços patrimoniais, bancos tradicionais oferecendo serviços de criptomoedas e governos desenvolvendo ativos digitais, a questão não é mais se as criptomoedas sobreviverão, mas como elas continuarão a remodelar as finanças, a tecnologia e a sociedade nas próximas décadas. A primeira década foi dedicada a provar a viabilidade; a próxima será dedicada a definir o futuro do próprio dinheiro.
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Aviso Legal: as opiniões expressas neste artigo são apenas para fins informativos. Este artigo não tem o intuito de sugerir nenhum dos produtos e serviços mencionados, nem se trata de uma recomendação de investimento, financeira ou de trading. Consulte um profissional qualificado antes de tomar decisões financeiras.
