Banco francês com 175 anos de história emite a primeira stablecoin de acordo com as novas regulamentações da União Europeia

O desenvolvimento desta stablecoin dependerá do grau de aceitação por parte dos provedores de pagamento e investidores, que buscam um ativo alternativo em euro confiável na economia digital.

Escrito por: Blockchain Knight

O grupo bancário francês ODDO BHF lançou a stablecoin EUROD, lastreada em euro, sendo o token uma versão digital do euro em conformidade com o novo regulamento Markets in Crypto-Assets (MiCA) da União Europeia.

O movimento deste banco com 175 anos de história destaca como as instituições bancárias tradicionais estão gradualmente expandindo para o setor financeiro em blockchain regulado.

Gerenciando mais de 150 bilhões de euros em ativos, o ODDO BHF afirmou que o EUROD será listado na exchange Bit2Me, sediada em Madri.

A Bit2Me, apoiada pela Telefónica, pelo Banco Bilbao Vizcaya Argentaria (BBVA) e pelo Unicaja, já concluiu seu registro junto à Comissão Nacional do Mercado de Valores (CNMV) da Espanha e é uma das primeiras exchanges a obter a licença MiCA, que permite expandir operações em toda a União Europeia.

O ODDO BHF fez parceria com a provedora de infraestrutura Fireblocks para lidar com custódia e liquidação. O EUROD é emitido na rede Polygon, proporcionando transações mais rápidas e de menor custo. O token é totalmente lastreado por reservas em euro e passa por auditorias externas.

Leif Ferreira, CEO da Bit2Me, afirmou que, no contexto da adoção de ativos digitais regulados na Europa, este lançamento “constrói uma ponte entre bancos tradicionais e a infraestrutura blockchain”.

O regulamento Markets in Crypto-Assets (MiCA), que entrou em vigor este ano, exige que emissores de stablecoins mantenham reservas 1:1 e garantam a possibilidade de resgate, além de impor padrões rigorosos de governança e transparência.

O lançamento do EUROD servirá como um teste prático para a eficácia do MiCA na coordenação da regulação de ativos digitais em toda a União Europeia.

A presidente do Banco Central Europeu (ECB), Christine Lagarde, alertou recentemente que a ausência de “mecanismos regulatórios equivalentes e sólidos” para stablecoins estrangeiras pode desencadear uma corrida às reservas na zona do euro.

Em carta ao Parlamento Europeu, ela instou os legisladores a limitar a emissão de stablecoins a empresas autorizadas pela União Europeia, citando o colapso da TerraUSD como exemplo dos riscos de projetos não regulados.

Segundo dados do CoinGecko, o valor de mercado das stablecoins atreladas ao euro dobrou este ano, com o EURC, emitido pela Circle, dominando o mercado e atingindo cerca de 270 milhões de dólares.

Já sob o arcabouço MiCA, stablecoins bancárias como a EUR CoinVertible, emitida pelo Société Générale, têm apresentado demanda relativamente baixa.

Jürgen Schaaf, conselheiro do Banco Central Europeu, acredita que a Europa precisa acelerar o ritmo da inovação, caso contrário poderá enfrentar o risco de “erosão da soberania monetária”.

O Comitê Europeu de Risco Sistêmico (ESRB) alertou que o modelo de múltiplos emissores, em que empresas da UE e de fora da UE emitem conjuntamente a mesma stablecoin, pode introduzir riscos sistêmicos e requer maior supervisão regulatória.

Apesar desses alertas, a clareza regulatória trazida pelo MiCA está fomentando a concorrência no mercado:

O departamento FORGE do Société Générale lançou a stablecoin em euro EURCV; a Deutsche Börse fez parceria com a Circle para incluir EURC e USDC em seu sistema de negociação.

Nove bancos europeus, incluindo ING, CaixaBank da Espanha e Danske Bank da Dinamarca, formaram a Dutch Alliance, planejando emitir uma stablecoin em euro compatível com o MiCA em 2026. O Citi se juntou à aliança posteriormente, com previsão de lançamento do ativo na segunda metade de 2026.

Enquanto isso, dez bancos do G7, incluindo Citi e Deutsche Bank, estão explorando a emissão de stablecoins multimoeda para modernizar processos de liquidação e aumentar a liquidez global.

Em comparação com as stablecoins atreladas ao dólar, que somam mais de 160 bilhões de dólares, o valor total das stablecoins lastreadas em euro ainda é pequeno, inferior a 574 milhões de dólares.

Os reguladores acreditam que, se geridos com transparência, os ativos digitais denominados em euro podem fortalecer a soberania financeira.

Para o ODDO BHF, o EUROD é uma iniciativa estratégica para atrair clientes institucionais por meio de conformidade e credibilidade.

O desenvolvimento desta stablecoin dependerá do grau de aceitação por parte dos provedores de pagamento e investidores, que buscam um ativo alternativo em euro confiável na economia digital.