A batalha entre Bitcoin Core e Knots está ficando feia

Se você é novo no Bitcoin ou os únicos sats que possui estão em um ETF ou em uma exchange centralizada, é compreensível que não saiba sobre Core vs Knots e toda a saga do OP_RETURN. Mas se você já passou por alguns ciclos, fez HODL como um campeão e ainda está coçando a cabeça, é hora de abrir os olhos: as ‘guerras de spam’ de 2025 têm todas as características das guerras de tamanho de bloco de quase uma década atrás, e estão ficando feias rapidamente.

Assim como nas guerras de tamanho de bloco, as guerras de spam envolvem um choque ideológico fundamental sobre os princípios centrais do Bitcoin, especialmente escalabilidade versus descentralização, e se deve priorizar a capacidade da rede e facilidade de uso em detrimento de um protocolo mais simples e sem permissões.

Apoiadores do Bitcoin Core, a implementação de referência de longa data, e do Bitcoin Knots, uma alternativa cada vez mais popular mantida pelo desenvolvedor e CTO da Ocean Mining, Luke Dashjr, estão em conflito, e as luvas estão sendo tiradas.

Core vs Knots, o que está acontecendo?

No centro da controvérsia está a remoção planejada pelo Bitcoin Core do limite de 80 bytes nos dados do OP_RETURN em sua próxima versão v30, prevista para outubro de 2025.

Essa mudança técnica, destinada a aumentar a flexibilidade e desbloquear novos casos de uso para inserção de dados na blockchain do Bitcoin, é fortemente contestada pelos apoiadores do Knots, que argumentam que isso transforma a rede principal em um depósito de transações não financeiras e spam.

Desenvolvedores do Core, como Peter Todd e Jameson Lopp, afirmam que a mudança apoia uma inovação mais ampla, como arte digital e verificação de documentos. Eles defendem o direito de todos usarem a blockchain do Bitcoin como quiserem, sem que governança ou moral sejam impostas. Lopp publicou:

“Eu realmente detesto política. Por isso tenho pouca paciência para aqueles que tentam impor modelos tradicionais de governança ao Bitcoin. Se você não gosta de anarquia, está livre para sair.”

Apoiadores do Knots como Samson Mow e Luke Dashjr alertam que a atualização corre o risco de inchar a blockchain, prejudicar a neutralidade do Bitcoin e enfraquecer seu propósito monetário. Dashjr alertou:

“O que você acha que vai acontecer agora que o Core está abrindo as comportas para o spam e, essencialmente, endossando isso? (Não importa o que eles digam, é assim que os spammers vão interpretar.) Qualquer chance que temos de fazer o Bitcoin dar certo vai por água abaixo – a menos que a comunidade tome uma posição clara e rejeite a mudança.”

Filosofia da rede e neutralidade

A disputa entre Core e Knots destaca fissuras ideológicas mais profundas sobre a função do Bitcoin. O Bitcoin deve permanecer estritamente uma camada de liquidação monetária, ou pode evoluir para atender a necessidades mais experimentais de dados on-chain, desde que as taxas sejam pagas?

A aparente mudança de política do Core é vista por alguns como uma renúncia ao papel de guardião, permitindo qualquer caso de uso se o usuário pagar. Os apoiadores do Knots, no entanto, enfatizam o controle com recursos como proteção anti-spam e argumentam que a remoção dos limites de dados pode centralizar o poder e ameaçar a escalabilidade.

Mineradores e operadores de serviços de retransmissão desempenham um papel fundamental, determinando quais tipos de transações acabam nos blocos e como a rede responde a preferências divergentes de software. Operadores de nós também têm migrado cada vez mais para o Knots: sua participação na rede dobrou em seis semanas entre maio e junho de 2025, e agora alcançou cerca de 17% de todos os nós do Bitcoin, um sinal de protesto crescente e possível fragmentação antes do lançamento do Core v30.

Para onde isso está indo?

Embora ainda não haja um hard fork, as tensões crescentes e a possibilidade de blocos ou transações serem rejeitados por diferentes clientes de software evocam memórias da divisão do SegWit em 2017.

O cenário Core vs Knots também levanta outra questão fundamental sobre a verdadeira descentralização da rede Bitcoin: quantos dos apoiadores do Bitcoin rodam seu próprio nó? Dashjr publicou:

“A maior ameaça à sobrevivência do Bitcoin é que muito poucas pessoas estão usando um nó completo. Para o Bitcoin funcionar, pelo menos 85% da atividade econômica precisa fazer isso.”

Com questões técnicas, políticas e filosóficas em jogo, o lançamento do Core v30 em outubro pode definir a próxima era do desenvolvimento do Bitcoin e do consenso descentralizado, determinando se a diversidade de software serve à resiliência do Bitcoin ou desencadeia uma divisão total da cadeia.