Da "resistência" à "adoção": Por que o JPMorgan de repente abraçou o Bitcoin?

‍Fonte original: Blockchain Knight

Título original: JPMorgan planeja aceitar Bitcoin como garantia de empréstimo: qual o significado por trás disso?

Após anos de relação tensa entre criptomoedas e finanças tradicionais, está ocorrendo uma mudança simbólica dentro do maior banco do mundo.

Segundo relatos, a JPMorgan está se preparando para permitir que clientes institucionais usem Bitcoin e Ethereum como garantia para empréstimos em dinheiro.

Isso significa que os tomadores de empréstimo do banco poderão empenhar essas duas criptomoedas de maior valor de mercado, com os ativos correspondentes sendo mantidos por custodiante terceirizados aprovados, como a Coinbase.

O plano está previsto para ser lançado até o final de 2025.

Essa iniciativa é bastante irônica. O CEO da gigante financeira, Jamie Dimon, é um conhecido crítico das criptomoedas, tendo anteriormente descrito o Bitcoin como uma “fraude”.

No entanto, a crescente demanda do setor emergente de criptomoedas o forçou a apoiar o lançamento de produtos relacionados pela empresa.

Um novo capítulo para garantias digitais

Essa iniciativa da JPMorgan pode silenciosamente redefinir as fronteiras entre ativos digitais e o mercado de crédito regulado.

De acordo com dados da Galaxy Research, até 30 de junho, o saldo total de empréstimos pendentes em finanças centralizadas atingiu 17.78 bilhões de dólares, um aumento de 15% em relação ao mês anterior e de 147% em relação ao ano anterior.

Incluindo empréstimos descentralizados, o saldo total de crédito garantido por criptomoedas no segundo trimestre de 2025 atingiu 53.09 bilhões de dólares, o terceiro maior valor da história.

Esses dados refletem uma mudança estrutural: à medida que os preços dos ativos digitais sobem, as atividades de empréstimo aumentam simultaneamente.

Essa tendência estreita os spreads de crédito, tornando os empréstimos mais atraentes para traders e departamentos financeiros corporativos.

Além disso, empresas também começaram a utilizar empréstimos garantidos por criptomoedas para financiar operações, substituindo a emissão de ações por dívidas garantidas por ativos digitais.

Nesse contexto, a entrada da JPMorgan é menos um experimento e mais uma medida decisiva da instituição para “alcançar os pares” no setor emergente.

Sobre isso, o pesquisador de criptomoedas Shanaka Anslem Perera estima que esse modelo pode liberar entre 10 bilhões e 20 bilhões de dólares em capacidade de empréstimo imediato para fundos de hedge, departamentos financeiros corporativos e grandes gestoras de ativos.

Essas instituições buscam obter liquidez em dólares sem precisar vender seus tokens de criptomoedas.

Na prática, isso significa que as empresas agora podem levantar fundos com ativos digitais, em um processo semelhante ao dos empréstimos garantidos por títulos do Tesouro dos EUA ou ações blue chip.

O significado da iniciativa da JPMorgan

Embora o empréstimo garantido por criptomoedas já seja comum em protocolos de finanças descentralizadas (DeFi) e pequenas instituições de empréstimo centralizadas, a participação da JPMorgan “institucionaliza” esse modelo.

A entrada do banco marca que os ativos digitais amadureceram o suficiente para atender aos padrões globais do setor financeiro em conformidade, custódia e gestão de riscos.

Matt Sheffield, CIO da empresa financeira SharpLink, focada em Ethereum, acredita que esse avanço pode remodelar a forma como gestoras de ativos e fundos administram seus balanços.

Ele afirma: “Até agora, muitas instituições financeiras tradicionais que dependem de transações bancárias tiveram que escolher entre manter Ethereum à vista ou outras posições.”

“Agora, o maior banco de investimentos do mundo está mudando essa realidade. Ao permitir empréstimos com posições mantidas por custodiantes terceirizados como garantia, as instituições podem construir portfólios mais lucrativos e aumentar o valor dos ativos empenhados.”

Ao mesmo tempo, essa decisão também reforça a presença geral da JPMorgan no setor de criptomoedas.

Nos últimos dois anos, o banco criou a rede de liquidação baseada em blockchain Onyx, processou bilhões de dólares em pagamentos tokenizados e explorou operações de recompra de ativos digitais.

A aceitação de Bitcoin e Ethereum como garantia de empréstimo completa o ciclo “emissão-liquidacão-crédito”, com todos os três elos baseados em infraestrutura blockchain.

Com base nisso, Sheffield prevê que essa medida desencadeará uma “reação em cadeia competitiva” entre grandes bancos. Ele aponta:

“Isso vai desencadear uma onda. Para grandes instituições, ser o ‘primeiro a agir’ tem um efeito dissuasor significativo. Quando o risco diminuir, outros bancos seguirão o exemplo; se não agirem, perderão competitividade.”

Atualmente, concorrentes como Citigroup e Goldman Sachs já expandiram seus negócios de custódia e recompra de ativos digitais; a BlackRock já incluiu títulos tokenizados do Tesouro (BUIDL) em seu ecossistema de fundos; a Fidelity dobrou o número de funcionários em seu departamento institucional de criptomoedas este ano.

Oportunidades e desafios coexistem

Embora Wall Street esteja cada vez mais aberta aos ativos digitais, desafios ainda persistem.

Os bancos que entram nesse mercado precisam lidar com a volatilidade inerente das criptomoedas, a incerteza no tratamento regulatório de capital e o risco contínuo de contraparte — fatores que limitam a expansão dos negócios de empréstimos garantidos por criptomoedas.

Os reguladores dos EUA ainda não emitiram diretrizes claras sobre o peso de capital para garantias digitais, forçando as instituições a depender de modelos internos conservadores. Mesmo com a gestão de risco de custódia por terceiros, espera-se que a supervisão regulatória permaneça rigorosa.

Ainda assim, a trajetória de desenvolvimento do setor é clara: os ativos digitais estão gradualmente se integrando à estrutura do mercado global de crédito.

O analista de Bitcoin, Joe Consoerti, afirma que essas iniciativas mostram: “O sistema financeiro global está lentamente reconfigurando suas garantias em torno dos ativos de maior qualidade já conhecidos pela humanidade.”