Perdido, esquecido ou morto, o Bitcoin é mais "escasso" do que se imagina?

O número real de bitcoins em circulação está muito abaixo do limite máximo estabelecido de 21 milhões. Segundo análises, devido ao esquecimento de chaves privadas ou danos em hardware, cerca de 2,3 milhões a 7,8 milhões de bitcoins já foram perdidos permanentemente. Essa "deflação silenciosa" supera em muito a soma de todas as posições institucionais. A previsão de Satoshi Nakamoto está se concretizando: essas moedas perdidas são, na verdade, uma doação para todos os detentores, tornando o bitcoin restante ainda mais raro e valioso.

Autor: Long Yue

Fonte: Wallstreetcn

O limite de fornecimento do bitcoin é de 21 milhões, mas a quantidade realmente disponível para circulação pode ser muito inferior a isso.

Recentemente, de acordo com o acompanhamento da instituição de dados "Sound Money Report", várias estimativas de relatórios de análise on-chain mostram que, devido ao esquecimento de chaves privadas, danos em discos rígidos ou morte acidental dos proprietários, entre 2,3 milhões e 7,8 milhões de bitcoins podem já ter saído permanentemente de circulação. Isso significa que, dos cerca de 19,9 milhões de bitcoins atualmente em circulação, a quantidade efetiva pode ser tão baixa quanto 12,1 a 17,6 milhões.

O criador do bitcoin, Satoshi Nakamoto, previu em abril de 2010 no fórum BitcoinTalk: "Os bitcoins perdidos só tornam as moedas dos outros um pouco mais valiosas. Considere isso como uma doação para todos." Hoje, esse comentário feito há mais de dez anos está se tornando realidade em uma escala sem precedentes.

Riqueza digital irrecuperável

Diferente de ativos tradicionais como ações ou títulos, no mundo do bitcoin não existe "segunda via em caso de perda". "Se não são suas chaves, não são suas moedas" (Not your keys, not your coins) é um famoso ditado no universo cripto, que na prática muitas vezes se transforma em algo ainda mais cruel: "Sem chaves, sem moedas" (No keys, no coins).

Uma vez perdida a chave privada — aquela senha única de 256 bits —, o bitcoin correspondente se torna um "ativo fantasma" visível no blockchain, mas para sempre inalcançável. Casos assim são frequentes, por exemplo:

• Segundo relatos, o engenheiro de TI galês James Howells descartou acidentalmente em 2013 um disco rígido contendo a chave privada de 8.000 bitcoins, um patrimônio que hoje vale quase US$ 900 milhões.
• O ex-CTO da Ripple, Stefan Thomas, esqueceu a senha do disco criptografado que continha 7.002 bitcoins e, restando apenas duas tentativas de dez, caiu em desespero.
• Há ainda casos de grandes fortunas levadas por mortes inesperadas. O CEO da exchange canadense QuadrigaCX, Gerald Cotten, teria falecido em 2018, deixando cerca de US$ 190 milhões em fundos de clientes (incluindo muitos bitcoins) inacessíveis.

Segundo dados consolidados pelo Sound Money Report, as estimativas para esses bitcoins perdidos permanentemente variam entre 2,3 milhões e 7,8 milhões.

• A Ledger, em um relatório de maio de 2025, citou estimativas de analistas indicando que o número de moedas perdidas está entre 2,3 milhões e 3,7 milhões, cerca de 11%-18% do total.
• O analista Timothy Peterson, da Cane Island Digital, estimou em junho de 2025 que mais de 6 milhões de BTC são irrecuperáveis.
• A plataforma de análise blockchain Glassnode e a ARK Invest, em um estudo de 2023, estimaram que cerca de 7,8 milhões de BTC estão "acumulados ou perdidos", embora esse número possa ser inflado por incluir endereços de "holders" de longo prazo, representando cerca de 39% do fornecimento total (até 8 de setembro de 2025, cerca de 19,9 milhões de bitcoins já foram minerados).

Apesar das diferenças metodológicas, esses dados apontam para um fato: existe um grande e crescente pool de bitcoins permanentemente perdidos.

O "choque de oferta" invisível: a escassez subestimada

Esse "choque de oferta invisível" causado pelos bitcoins perdidos é muito maior do que a adoção institucional tão discutida pelo mercado.

Segundo dados de agosto de 2025, todos os ETFs de bitcoin à vista juntos detêm cerca de 1,036 milhão de bitcoins. De acordo com o site Bitcoin Treasuries, as 100 maiores empresas listadas do mundo detêm juntas cerca de 988 mil bitcoins, além de algumas empresas conhecidas que possuem uma parte. Somando os bitcoins detidos por ETFs e empresas, o total chega a cerca de 2,2 milhões.

Isso significa que, mesmo considerando a estimativa mais conservadora de 2,3 milhões de bitcoins perdidos, o número de bitcoins permanentemente fora de circulação já supera o total detido por Wall Street e pelas maiores corporações globais.

Enquanto o mercado ainda foca em quanto dinheiro entrou no fundo IBIT da BlackRock ou em quantos bitcoins a MicroStrategy comprou, um aperto de oferta muito maior e de impacto mais profundo está ocorrendo silenciosamente.

O valor de mercado real do bitcoin pode estar superestimado em cerca de US$ 500 bilhões

Considerando os atuais 19,9 milhões de bitcoins minerados, subtraindo uma estimativa mediana de 5 milhões de bitcoins perdidos, menos os 2,2 milhões detidos por instituições, e assumindo que investidores de longo prazo "holdam" cerca de 3,8 milhões, chega-se à conclusão de que o volume realmente disponível para negociação no mercado pode ser de apenas 8,9 milhões de bitcoins, cerca de 45% do total minerado. Em comparação, a proporção de livre circulação das ações do S&P 500 geralmente varia entre 70% e 90%.

Portanto, o valor de mercado total do bitcoin, atualmente reportado pela mídia como superior a US$ 2,1 trilhões, na verdade inclui uma "ilusão". Se excluirmos os 5 milhões de "bitcoins fantasmas", o valor real de mercado seria de cerca de US$ 1,6 trilhão, evaporando cerca de US$ 500 bilhões.

Em resumo, a escassez do bitcoin é muito maior do que o limite teórico de 21 milhões. Essa "deflação silenciosa" causada por perdas, esquecimentos e mortes está reduzindo continuamente o fornecimento real de bitcoin, com impacto e escala muito além do que a grande mídia financeira costuma abordar.

O mercado está gradualmente percebendo que o bitcoin é "ainda mais escasso do que se imagina".